Porque actualizar a ortografia ronga?
Ronga (ou xizronga, xirhonga, xironga, shironga) é uma língua bantu predominantemente falada na Província e Cidade de Maputo. O Ronga pertence ao grupo linguístico conhecido como Tsonga, ou Tshwa-Ronga, que abrange três línguas mutuamente inteligíveis faladas principalmente no sul do Rio Save, em Moçambique, nomeadamente Ronga, Changana e Tshwa. Nada sugere que os Rongas sejam uma tribo. São simplesmente nativos da região Leste (Vuzronga), sendo assim chamados vazronga, isto é, os oriundos do Leste, ou os Orientais.
Segundo os dados mais recentes do censo populacional de 2017, o Ronga é a língua materna de 58.486 moçambicanos. Isto representa um grande declínio no número de falantes nativos, comparado com os dados do Relatório do III Seminário Sobre a Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas (Ngunga e Faquir, 2012), que indicavam um número de 265.829 falantes. Evidentemente, não terá ocorrido nenhuma morte em massa dos falantes da língua ronga, mas muitos falantes desta língua podem ter perdido a sua identidade, tendo sido assimilados pelo Português e Changana. Por outro lado, pode ser que muitos que na realidade falam a língua ronga simplesmente confundam a língua com o Changana. Aliás, alguns sites (por exemplo, omniglot, PeopleGroups.org e wikipedia), ainda indicam um número de falantes que varia entre 420.000 e 700.000 indivíduos em Moçambique e África do Sul.
Um dos principais factores contribuintes para o declínio da língua Ronga, ou a sua perda de popularidade, pode ser a falta de literatura escrita numa ortografia actualizada e fácil de ler. Para muitos, a Bíblia é a única obra a que têm acesso, mas apresenta um grande problema de legibilidade, principalmente por causa da sua ortografia desactualizada. Embora essa ortografia use um sistema de diacríticos coerentes e justificados para representar os sons típicos e exclusivos da língua ronga, este afigura-se bastante difícil de decifrar para os leitores mais jovens. Esta constatação esteve por trás das mudanças ortográficas sugeridas nas últimas três décadas durante os seminários sobre a padronização da ortografia das línguas moçambicanas. Como resultado, já há uma quantidade razoável de material escrito em ortografia moderna, desde a Bíblia ao material didáctico usado no ensino bilingue. Contudo, a experiência no terreno levou à constatação de que a escrita dos três sons típicos e excluivos da língua ronga ainda precisavam de uma actualização de modo a permitir uma maior legibilidade da mesma.
Foi com esse intuito que durante os debates do grupo Ronga no IV Seminário Sobre a Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas, realizado de 23 a 25 de Maio de 2018, foi acordada uma actualização que prescreve, dentre outros, a escrita conjuntiva e a adopção de três grafemas que representam os sons típicos e exclusivos da língua Ronga. Estes são os seguintes:
- zr [ᶽ] em vez de rh;
- tsr [tᶽ] em vez de tr;
- dzr [dᶽ] em vez de dr.
Exemplos:
- A palavra rhambu passa a ser escrita zrambu.
- A palavra trema passa a ser escrita tsrema.
- A palavra drila passa a ser escrita dzrila.
Quando os grafemas rh, tr e dr são mantidos, os mesmos pronunciam-se como em xichangana ou português. Exemplos:
- Rhonyongo (que, na variante Xikalanga, é pronunciado de modo diferente da variante Xinondzrwana – Zronyongo – um cozido de banana verde)
- Kutravhara (travar)
- Dragona (dragão)
Estas mudanças são vantajosas porque facilitam a leitura para qualquer pessoa alfabetizada em qualquer língua e evitam a confusão com outras línguas. Com a grafia antiga de rh para [ᶽ], os falantes de Changana certamente teriam dificuldades em produzir a pronúncia correcta ao ler um texto em Ronga. O mesmo se daria com os falantes do Tshwa se se continuasse com a grafia antiga r sem nenhum diacrítico para [ᶽ]. Por exemplo, se vissem a palavra KURHULA ou KURULA (paz) destacada numa publicação em Ronga, eles naturalmente iriam pronunciá-la tal como o fazem em Changana ou Tshwa. Mas ao verem a mesma palavra escrita KUZRULA, no mínimo iriam processar a palavra e tentar pronunciá-la o mais perto possível do Ronga nativo. Ou pelo menos teriam a consciência de que não é Changana nem Tshwa. Também ganhariam uma maior consciência da existência da 3ª língua irmã no seu grupo linguístico – Tsonga.
Eu amei a ideia.
Força brother
Good
Parabéns pelo site. Espero aprender mais sobre a língua.
Vai ser muito bom ler algo em Ronga. Parabéns .
Boa noite
Concordo consigo, foi uma boa iniciativa. Ronga vai crescer sobretudo se tivermos hábito de dar comentários.
Ndza tsaka leswaku Mozambique se yi le Ku tekeleni nhlokweni tindzimi ta ndhavuko. Mhaka leyi a yi ndzi karhata. Ha mi tlangerisa.
Natsrhava kuvona ntizro wa kunhasi, wa kubekisa tindzrimi tezru ta xintu.
Yanani mahlwini ni ntizro lowo wa lisima.
Loko misvikota, mingapeta lana ka site ledzri minkaringana, svithokozelo, svitekateka ni svimbeni svingapfunetelaka kuhlakahleta lidzrimi ledzri dzra kuxonga!
‘Também ganhariam uma maior consciência da existência da 3ª língua irmã no seu grupo linguístico – Tsonga.”
As palavras acima são a razão do meu “amor” por esse site, por esse excelente trabalho, mais uma vez parabéns!
Aningasvitivi svaku svi kone sva ku tani.
Khanimambu. Svihlayaka svaku axizronga xingaka xingambombi.
Muito obrigado por este website, com certeza vai nos ajudar a crescer e a resguardar a nossa cultura, khanimambu!
Ni ta tsrala hi xigodzri hikusa a ximadji a nahaxitivi: In one of my songs, “Johana” with my then trio, Amati, released back in 2000, I tried to write the Ronga words this way – Johana, dri teki nkatanga (Johannesburg has stolen my spouse). But I really like the way you write in this magazine. As someone else also suggested, it would be great if you could include some folktales (a svihitana) as well. I am really impressed!
Richard Nwamba – musician and radio broadcaster
Iniciativa muito boa. Força 💪
Gostei muito da iniciativa de recuperar as linguas bantu, em todos os seus sentidos nomeadamente a escrita e a pronúncia, o que sem dúvida traz a tona ou seja permite a distinção clara de uma lingua da outra!
Motiva e é produtivo quando a gente lê qualquer que seja a informação, na sua lingua mãe!